quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Chegadas e Partidas


Hit the road jack - versão Galway, Irlanda 2008

 Dia 23 de novembro de 2011. Canal GNT, das 17:30 às 18. Não foi a primeira vez que eu assisti ao programa Chegadas e Partidas da apresentadora Astrid Fontanelle, mas talvez tenha sido a primeira vez que eu dei a devida atenção a ele. As histórias de pessoas que deixavam o Brasil pelo Aeroporto Internacional de Cumbica ou que aguardavam alguém especial chegar não foram surpreendentes para mim. O que me tocou nesse programa foi o fato de cada um dos "personagens" desse episódio relatarem sentimentos que tantas vezes eu senti, pois afinal, quem melhor do que eu para falar de chegadas e partidas?
 Eu nasci partindo de São Paulo e deixando na metrópole grande parte da família. Eu nasci chegando em Florianópolis em busca do desconhecido com meus pais e irmã. Brasília, São Paulo novamente. Irlanda... Irlanda? Sim. São Paulo mais uma vez... E agora?
Nessas idas e vindas o que ficou está guardado, e entre cartas, cartões, fotos e lembranças nenhum sentimento se perdeu. Nem a alegria dos momentos vividos, nem o que houve de ruim. Nem pessoas que promoteram estar sempre ao meu lado e se foram, nem pessoas que se foram e estão sempre ao meu lado. A saudade fica.
O medo de partir e a ansiedade de chegar agem em todos, cabe a cada um de nós tirar o que há de melhor de cada experiência, para que as mudanças (nem sempre referentes a espaços geográficos), ou seja, as partidas, possam ser um primeiro passo para que possamos chegar onde realmente queremos.  

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A Sangue Frio

 
 
 
 
 
 
 
 
 
Misterioso, comovente, aterrorizante e surpreendente: esse é o livro A Sangue Frio, de Truman Capote. A obra considerada a primeira do chamado New Jornalism, tem como tema o assassinato brutal de uma família do estado do Kansas, nos Estados Unidos. Talvez seja o fato de a história ser real, ou a maneira como ela é contada, mas uma coisa é certa: o livro é daqueles que se lê de boca aberta e olhos arregalados da primeira à última página.
O autor, em sua obra-prima, não espera causar o mistério de quem é o culpado pelo crime, isso porque paralelamente duas histórias são contadas: a das vítimas, a família Clutter, que foi brutalmente assassinada, e a dos criminosos, Perry Smith e Dick Hichcock. Assim, o enigma consiste em desvendar o que motivou os bandidos a cometerem o delito e analisar psicologicamente os dois tipos, para de certa forma se entender como foram capazes de cometer tal atrocidade.
 Para montar o cenário perfeito em nossa imaginação, Truman Capote faz minuciosas descrições dos ambientes e traça perfis muito profundos de cada um dos personagens dando voz a eles em diversos momentos da narrativa. Dessa maneira pratica o mais sagrado exercício jornalístico: a apuração.  Fluxos de consciência parecem ser criações do autor, mas aproximação do jornalista com os acusados atingiu níveis até mesmo pessoais, fazendo com que os mínimos detalhes fossem revelados a ele, confirmando sua credibilidade.
 A maneira como a história é contada faz com que certas percepções sejam evocadas no leitor, como as referentes à raiva, compaixão, tristeza e indignação. Algumas vezes, inclusive, somos induzidos através dessa leitura a certos sentimentos antagônicos por um mesmo personagem, o que valida a tentativa de Capote de mostrar várias visões sobre um mesmo fato, para que o leitor tire suas próprias conclusões sobre os acontecimentos, apesar  da condenação moral e penal dos acusados seja inquestionável e universal. Por isso, embora o livro se chame A Sangue Frio, há nele um caráter muito “quente”, muito relacionado às emoções e traumas humanos, o que torna a obra imperdível.