sábado, 22 de outubro de 2011

"O que fica é o que significa"

Ontem na aula de história um tema muito interessante foi discutido: a memória.
Sinceramente, o tema da aula já era lindo, não é? Afinal, que professor de história, hoje em dia, se dá ao trabalho de "gastar" uma aula inteira somente para discutir algo que não faz parte do cronograma, como é a memória? Bom, o José Augusto, nosso professor, o fez, e além de ter conseguido nos instruir sobre como realizar a atividade proposta para esse bimestre (um relato sobre a história oral), nos deu uma lição que levaremos para o resto das nossas vidas, dentro e fora do meio profissional, que é o fato de termos respeito pelas memórias de outrem. Discutimos as diversas causas pelas quais as memórias que temos podem ser alterações do que aconteceu realmente, e uma das explicações encontradas é a do filósofo Maurice Halbwachs que afirma: “a lembrança é em larga medida, uma reconstrução do passado com a ajuda de dados emprestados do presente, e além disso, preparada por outras reconstruções feitas em épocas anteriores e de onde a imagem de outrora manifestou-se já bem alterada” (HALBWACHS, 2004: pp. 75-6). Isso quer dizer que enquadramos as lembranças nos valores que temos hoje em dia, por isso, muitas vezes mudamos a versão real para que ela se adapte aos padrões atuais. Esses valores também são, muitas vezes, responsáveis pela seleção de acontecimentos que serão lembrados ou esquecidos, por isso não raramente apagamos de nossas memórias coisas ruins que passamos, porque simplesmente preferíamos que elas não tivessem acontecido, e isso ameniza nossa dor (lógico que grande parte dessas alterações nas lembranças e do esquecimento de outras, acontece inconscientemente e involuntariamente).

 Outra coisa que foi discutida nessa aula foi a memória sensorial. O tema é incrível, mas foi ainda mais interessante discutir sobre ele, porque há algum tempo eu tive uma experiência em que um sentido (tato, olfato, paladar, audição ou visão) me remeteu a uma memória, e depois dessa primeira vez devo ter ficado mais sensível e agora isso acontece com uma certa frequência. A primeira memória sensorial que tive faz mais ou menos um ano, e foi quando eu senti o cheiro da chuva e o som dela tocando o chão de cimento. Esse cheiro e esse som me lembraram a minha infância, quando eu morava em Florianópolis, mas vinha visitar meus parentes aqui em São Paulo. A casa dos meus avós era onde nós ficávamos a maior parte do tempo, e o fato de eu ter visto pela primeira vez uma chuva de granizo quando eu estava lá,  me fez associar chuva à cidade e consequentemente àquela casa. Muitas coisas boas se passaram naquele ambiente, como festas de natal, comidinhas da vovó, brincadeiras com os primos, família reunida, etc... aquele cheirinho de chuva e o som que ela provoca ao bater no chão conseguem sintetizar tudo isso, só não conseguem sintetizar a saudade que todos aqueles momentos deixaram em cada um de nós.

Pode ser que eu esteja enganada, e que eu já tivesse visto uma chuva de granizo antes, ou que na verdade a comida da minha avó não fosse tão boa assim, mas eu prefiro acreditar nessas memórias, pois foi o conjunto delas que moldou a pessoa que sou hoje, e que me fará a pessoa que um dia eu quero ser.

Um comentário:

  1. adoreeeei! a aula foi mesmo incrível, pena que precisei sair algumas vezes por causa do CC... haha parabéns, Lu! quero ler mais, vai postando (:

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